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O Brasil merece Bolsonaro?

A coluna Brasil Desgovernado é de autoria de Hugo Brasarock
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Por: HUGO BRASAROCK

Vivemos a era do eufemismo. Nunca se falou tanto em algo, querendo dizer outro. Não há mais aliados. Não se joga mais limpo. Nem entre companheiros de partido, nem entre parceiros de trabalho, nem entre casais, nem entre familiares, nem entre ninguém!

É triste e óbvio. Como dizia Chico Buarque: “Tudo está claro e tudo tão real”. Não há mais em quem confiar. A direita, doente e alienada, confia cegamente em seu ídolo patético e vergonhoso, e quando não, forja um outro similar, talvez mais cruel e até menos burro, mas não diferente em suas automáticas más intenções. A esquerda, anestesiada e irreconhecível, brinca de militância, lutando por pautas banais e não-binárias. Enquanto isso, passa boi, passa boiada, passa búfalo, passa cavalo de troia… e perdem-se pautas trabalhistas, viram fumaça ideias e direitos conquistados ao longo de anos de protestos e lutas ideológicas registradas em documentos históricos, que hoje correm o risco de soarem patéticos, dada a nova ordem do imperador de se “corrigir” a prova do ENEM, por exemplo, substituindo o termo ‘golpe’ de 64 por ‘revolução’.

Não sou nenhum ingênuo em tentar defender um período qualquer da história brasileira, negando que houve atos de corrupção dentro de um contexto, em que eram necessárias ações que se estabelecessem novos paradigmas morais e políticos sobre uma nação esperançosa e cansada de abuso de poder. Mas posso afirmar que, se já era precária a construção intelectual da instituição, agora chegou ao nível de lamentações bíblicas, já que esse governo é tão apegado à religiosidade.

Patologicamente, o ENEM já era uma piada. Os corretores, formados e ‘diplomados’ eram obrigados a adequarem-se à limitação consolidada dos candidatos, frutos do implantado sistema falido e reduzido a um nível vexatório de conhecimento, alusivo ao Ensino Médio. Não eram mais, portanto, os estudantes que deveriam se adequar ao conteúdo estabelecido, estudando e se apropriando da matéria, mas, sim, os corretores que passariam a tomar posse da nova realidade de rebaixar suas convicções intelectuais para encaixarem seu conhecimento à nova forma nula de comunicação na escrita e em todo e qualquer conhecimento técnico e erudito acerca do currículo “obrigatório”, que pode ser, sim, escrito entre aspas, já que não obriga nada nem qualquer ressalva aos pobres e iludidos estudantes atuais e conectados.

O imperador doentio, amparado por sua horda patologicamente comprometida, não contente, estabeleceu que o exame nacional deveria ter “a cara” do governo, induzindo estudantes a ignorarem ações que configurassem fatos arbitrários, mortais e fascistas, pontuados na história brasileira. Quando, numa conversa sobre o ENEM, critiquei o sistema ali consolidado, não enxerguei que o ‘buraco era bem mais embaixo’. Os absurdos estão se normalizando no país de forma assustadora e o nosso papel não demonstra surtir efeito. Até porque, as novas gerações, em sua grande maioria, nem escrever e ler sabem mais. Como iriam, então, deixarem-se influenciar por textos publicados em jornais?
O ridículo personagem, intitulado ‘capitão’ distrai, com sucesso, seus oponentes. Com seus comentários retrógrados e absurdos, envolve os militantes de sofá, que passam a gastar seu tempo rebatendo seus comentários bizarros nas redes sociais, alimentando a ilusão de que estão fazendo algo para mudar o mundo. Enquanto discute-se, em resposta ao patético presidente, em tom de lições de moral politicamente corretas, os trabalhadores, aposentados, minorias e excluídos testemunham seus direitos deslizarem ralo abaixo. A pauta da esquerda limita-se à luta pelo estabelecimento dos Pronomes Neutros, imersa na turbulência dos problemas de gente grande, alavancados pelo mandatário problemático, que adoece o Brasil dia após dia.

Essa crônica, aparentemente, não tem função alguma, já que qualquer coisa nela escrita não exercerá peso significativo nos consagrados textos de imprensa projetados para os jovens da sociedade atual que, se souberem ler um parágrafo literário ou produzir um texto, adicionando a letra R no infinitivo, seriam considerados gênios e nos fariam sorrir de forma ilusória, ignorando a defasagem criminosa na Educação formal. Apesar, contudo, todavia, mas, porém, serve para ser uma pedra no sapato de um fascista qualquer ou conscientizar e tentar abrir os olhos de alguém, que de forma esperançosa, consiga pensar em algo que nos tire desse furacão.

Bolsonaro tem conseguido piorar o ‘impiorável’. Já não há mais motivação nem para escrever, já que sabemos que, em muito pouco tempo, todo e qualquer texto não conseguirá sequer ser lido por pessoas que poderiam estabelecer alguma atitude de mudar o mundo. É triste e frustrante… mas talvez o Brasil, realmente, mereça Bolsonaro.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IlhaNews.

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