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Consciência Negra: Jovens buscam visibilidade em Salvador

A sociedade brasileira, marcada pela história da escravidão, avançou nesses últimos anos no processo de inclusão do povo negro.
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Por: Pe. Bernardino Mossi

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A sociedade brasileira, marcada pela história da escravidão, avançou nesses últimos anos no processo de inclusão do povo negro.

Nota-se um avanço na tentativa de superação da desigualdade entre brancos e negros.

As condições de vida começaram a melhorar, as discriminações raciais tiveram uma decaída e o negro começou a ascender na vida social, intelectual e política, em comparação ao período colonial, onde esse povo não tinha nem voz nem visibilidade.

Mas, ao lado dessa ascensão do negro na vida social, encontra-se ainda, infelizmente, um registro de várias formas de discriminação, de racismo e de negação.

Voltar a lutar pela integração igual e completa do povo negro na sociedade brasileira é celebrar a consciência negra, é celebrar o dia de Zumbi, é reconhecer e respeitar os direitos, a cultura, a identidade, e a religião desse povo.

Nas linhas que seguem, iremos analisar a vivência de um grupo de jovens soteropolitanos (de Salvador) que luta pela sua visibilidade identitária no bairro de Sussuarana.

Tudo começou com a chegada dos missionários combonianos no bairro para desenvolver um trabalho com os afrodescendentes.

No ano 2000, foi criado o Centro de Pastoral Afro Pe. Heitor Frisotti (CENPAH) para exercer atividades de formação identitária, arte-educação, promoção da autoestima de grupos, coletivos e comunidades, na luta contra toda e qualquer discriminação.

O centro tornou-se, assim, um espaço para construção de resistência, de luta, de identificação, onde jovens de ambos os sexos podem analisar a sua situação atual de exclusão, tomar consciência disso e buscar estratégias para marcar a sua presença.

Fazendo assim, eles continuam a luta iniciada pelo líder do Quilombo dos Palmares: Zumbi.

Para esses jovens, a grande mudança começou quando em 2011 nasceu o Sarau da Onça.

Trata-se duma atividade cultural da cidade, que tem como objetivo despertar nos jovens negros o desejo de buscar sua visibilidade a partir da poesia.

Em seus encontros de poesias, têm “como foco o acesso aos bens culturais, a ressocialização de populações marginalizadas, buscando promover e incluir socialmente esses sujeitos no modo como negociam e elaboram sua memória e suas identidades” (OLIVEIRA, Esmael; OLIVEIRA, AUGUSTO, 2017).

Em outras palavras, os encontros de poesias tornam-se momentos de partilha e reflexão sobre as realidades vividas de discriminação, racismo e rejeição no dia a dia.

Essas poesias de afirmação do “ego” negro como sujeito e não objeto, vão mudando o jeito de ser, de pensar, de falar, de vestir-se desses jovens.

A repetição das poesias de afirmação da pele escura e de resistência vai reconfigurando os participantes para aceitarem, o que são realmente: Negros.

A nova resistência à discriminação é a afirmação da identidade negra como uma identidade autônoma, com suas vidas e direitos iguais às outras identidades.

Bispo diria que “na perspectiva da resistência cultural, essas identidades vêm sendo ressignificadas como forma de enfrentar o preconceito e o etnocídio praticado contra povos afro-pindorâmicos e os seus descendentes” (BISPO, 2015, p. 38).

Fazer memória de Zumbi é refletir e buscar novas formas de resistência contra a marginalização e o racismo.

Para os jovens do Sarau da Onça, basta assumir a sua própria identidade e manifestar o orgulho de ser negra ou negro.

Celebrar o dia da consciência negra volta a desenvolver uma força estruturante que (re)constrói as identidades do povo negro de maneira efetiva.

Essas identidades “deixam de ser apenas “faladas”, ou estudadas, para se tornarem acadêmica e juridicamente “falantes”; saem da apenas voz passiva e incorporam a voz ativa, em articulações, intercâmbios e ações afirmativas (OLIVEIRA, Esmael; OLIVEIRA, AUGUSTO, 2017).

Há necessidade de buscar um espaço onde o sujeito marginalizado pode ter voz, saindo assim da zona de instrumentalidade para o lugar de voz e protagonismo.

Esse grupo de jovens tem demonstrado essa força transformadora da realidade, quando começou a incentivar e criar atividades focadas na conscientização, no avivamento da identidade e na preservação de seus valores e de sua memória histórica.

O impacto social dessa busca de identidade no Sarau da Onça vai alargando seus limites quando, o que é aprendido nos sábados através de poesia, é colocado em prática nos espaços públicos, nas faculdades, nas escolas e no trabalho.

O sentimento de frustração dá lugar ao orgulho, à aceitação e apreciação. Usar o turbante, ter cabelo crespo, usar vestimenta com uma imagem do continente africano torna-se um modelo para quem frequenta o Sarau, isso, sobretudo observa-se entre as mulheres do grupo.

Assim, pode-se dizer que “Identidades étnicas e culturais são armas que muitos grupos minoritários podem utilizar para se defenderem contra outros grupos mais fortes” (ALMEIDA, 2007).

Vamos agora ler uma dessas poesias para contemplar a força transformadora escondida nelas:

Negaram-me,
Me manipularam o tempo todo
Me dizendo que as coisas que eu gostava não prestavam
Meu cabelo não prestava, minhas crenças não prestavam
Que os meus reis e rainhas não existiam
Me fizeram escravo
Definiram um padrão e eu estava margem dele
Me negaram o direito de viver, ser livre
As minhas escolhas só eram aceitas se fossem as escolhidas deles
Hoje, sem o efeito do veneno que foi injetado em minha mente
Vejo o quanto é importante ser mais consciente
O quanto a minha presença significa uma ameaça
Nunca fui aceito e por isso eu não aceito
Esse papo de que somos todos iguais
Pra mim sempre teve uma outra balança
Na hora da abordagem dos policiais
Ser crespo sempre feriu os bons costumes
Por isso é mais que afirmação quando
Um preto seu crespo assume
É acima de tudo um ato político
Mostrar que não desistimos
E nunca estivemos satisfeitos com o padrão
Se o Black atrapalha, sempre foi essa nossa condição
E entenda que eu sou lindo e não preciso de opinião
Com a minha família aprendi sobre a autoafirmação
Vim para escurecer, porque tá muito claro
E falar em alto e bom som
Que sou descendente de reis e rainha
E não de escravos.

Sandro Sussuarana, 2018

Essa poesia marca bem a subversão. Pode-se perceber uma mudança de mentalidade que acarreta o desejo de continuar a luta a favor da igualdade, da fraternidade, do respeito…

É o que chamamos de busca da visibilidade através da construção da identidade.

Para chegar a essa construção, segundo Ferreira, foi necessário que a juventude negra passasse por quatro estágios: submissão, impacto, militância e por fim articulação (Ferreira, 2004).

Assim, o jovem que frequenta o Sarau, chega submisso e acorda para a realidade vivida no cotidiano, através das atividades.

Aí, inicia-se um processo de intensa transformação pessoal, em que “ele vai, gradualmente, demolindo velhas perspectivas e, ao mesmo tempo, passa a desenvolver uma nova estrutura pessoal referenciada em valores etno-raciais de matrizes africanas” (Ferreira, 2004).

Essa nova estrutura pessoal é a forma mais eficaz de resistir hoje, pois leva a reclamar seus direitos e a lutar pela total igualdade.

Em resumo, pode-se dizer que celebrar o dia de Zumbi é “parar de taxar os negros como pessoas inferiores, religiosamente tidas como sem almas, intelectualmente tidas como menos capazes, esteticamente tidas como feias, sexualmente tidas como objeto de prazer, socialmente tidas como sem costumes e culturalmente tidas como selvagens”. (Bispo dos Santos Antônio, 2015).

Infelizmente, como no passado, a população negra no Brasil continua sendo considerada deste jeito e só uma mudança de mentalidade promoverá a igualdade.

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Isto é celebrar o dia da consciência negra, entrar no processo de uma metanoia (conversão) individual e coletiva no nosso modo de olhar a população negra no Brasil.

Fonte: comboianos.org.br

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