Um dos maiores desafios no combate ao desmatamento ilegal na Amazônia é a identificação da origem da madeira apreendida.
Para auxiliar neste trabalho, um projeto da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que conta com a parceria da Embrapa Florestas e da Superintendência da Polícia Federal do Amazonas, vai caracterizar as espécies arbóreas com maior volume de apreensões no estado, com o objetivo de fortalecer o sistema de fiscalização do desmatamento ilegal na região.
O projeto “Indicadores relacionados às ameaças climáticas e medidas para minimizar os impactos de desmatamento na conservação de espécies florestais da Amazônia – ClimAM” vai mapear a distribuição das principais espécies e levantar informações sobre características genéticas e atributos ambientais ligados às suas áreas de ocorrência.
Estes dados poderão auxiliar órgãos de fiscalização, como a Superintendência da Polícia Federal do Amazonas e o escritório local do Ibama, na identificação da origem da madeira apreendida e na fiscalização de áreas mais visadas para o desmatamento ilegal.
As populações que fazem parte de uma espécie se diferenciam em função do ambiente em que estão presentes. Estas populações podem ser caracterizadas e mapeadas, delimitando a zona de distribuição, ou seja, identificando os limites de sua área de ocorrência, o que torna possível identificar sua origem por meio de técnicas de genotipagem, análises de isótopos, entre outras.
Com isso será possível atribuir a madeira apreendida pela Polícia Federal às áreas em desmatamento do Amazonas.
Para auxiliar na identificação, a Polícia Federal conta ainda com um moderno sistema de vigilância da Amazônia, o sistema Planet, que monitora o desmatamento em tempo real e é capaz de identificar áreas cuja vegetação está sendo suprimida.
Além deste sistema, conta com outros equipamentos que dão suporte a este fim, como o TXRF e aparelho de isótopos. Assim, será possível relacionar a madeira apreendida às áreas em desmatamento.
“O desmatamento ilegal na floresta amazônica é um problema que vai além das fronteiras do Brasil. Considerando que a Amazônia compreende mais de 40% do território brasileiro, a fiscalização não é uma tarefa fácil, precisando de suporte para o seu fortalecimento”, explica o pesquisador Marcos Silveira Wrege, da Embrapa Florestas.
Dentre os resultados do projeto, em vigência até 2024, estão o desenvolvimento de banco de dados com registro das espécies florestais; o desenvolvimento de metodologia técnico-científica, envolvendo técnicas de genotipagem e a criação de indicadores climáticos relacionados; e cursos de capacitação para agentes multiplicadores junto aos órgãos de fiscalização. Os índices e indicadores climáticos serão disponibilizados na plataforma “Adapta Brasil MCTI”, que integra em uma única plataforma índices e indicadores de riscos de impactos das mudanças climáticas no Brasil.
Resultados vão colaborar com ODS
A conservação das espécies florestais da Amazônia é fundamental para reduzir os riscos relacionados às seguranças hídrica, energética e alimentar nacionais, além de colocar o Brasil em consonância com as metas de Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU), ao garantir a manutenção e a conservação da cobertura florestal.
Entre as ODS, pode-se citar as contribuições para a “fome zero e agricultura sustentável” e “água limpa e saneamento”. Estas ODS são beneficiadas pelos serviços ambientais proporcionados pela floresta.
Como explica Wrege, a floresta amazônica colabora na regulação do clima, atuando na dinâmica de distribuição das chuvas, além de estocar grande quantidade de carbono, extraindo-o da atmosfera, principalmente nos anos mais chuvosos.
“Com o aumento do desmatamento, têm ocorrido mais anos secos, alterando o equilíbrio da floresta e a dinâmica na regulação climática, principalmente na distribuição das chuvas no Brasil”, diz o pesquisador.
Em 2021, o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), vinculado à Agência Nacional de Águas (ANA), emitiu um alerta, pela primeira vez na história, sobre o perigo iminente de uma crise hídrica e elétrica sem precedentes, causada pela falta de chuvas na Bacia do Paraná, que abrange os territórios do Distrito Federal, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina.
Essa Bacia é responsável por abastecer a maior parte dos reservatórios de água das hidrelétricas, como Itaipu, e garante o suprimento de água às cidades e zonas agrícolas.
O pesquisador aponta também para a valorização das boas práticas para preservação ambiental junto ao comércio internacional, o que tem reflexos na exportação de produtos brasileiros: “Acordos comerciais internacionais podem deixar de ser feitos com o Brasil em função da não observância em relação à preservação da Amazônia, entre os quais o acordo com a Comunidade Europeia”, lembra Wrege.
O projeto é resultado de uma parceria entre Embrapa Florestas, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Superintendência Regional da Polícia Federal do Amazonas, Universidade da Flórida, Unesp de Ilha Solteira, através do professor Mário Moraes, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Embrapa Amazônia Ocidental e conta com financiamento do CNPq e da Capes.
Com informações da Embrapa.